POSSE DO 19º INSPETOR DO NORDESTE | A Homilia do padre Natale Vitali, Inspetor de Belo Horizonte
POSSE DO 19º INSPETOR DO NORDESTE | A Homilia do padre Natale Vitali, Inspetor de Belo Horizonte
8 de janeiro de 2022 Por pauloA homilia da solene celebração eucarística foi pronunciada pelo Pe. Natale Vitali, inspetor salesiana da Inspetoria de Belo Horizonte, já conselheiro regional da Congregação.
07 de janeiro de 2022: “Sexta-feira depois da Epifania”.
Lc 5,12-16
Caros irmãos e irmãs:
Antes de mais nada trago-vos as saudações do Reitor-Mor, P. Ángel Fernández Artime, que nos acompanha hoje com o seu afeto e oração.
Estamos reunidos como Família Salesiana nesta Basílica de Maria Auxiliadora para participar do início do serviço do P. Ignácio Francisco como Inspetor desta amada Inspetoria do Nordeste.
Ele foi escolhido para ser “Pai” desta comunidade Inspetorial. Ele deve servi-los e guiá-los na pessoa de Jesus, animá-los no carisma salesiano e governá-los com amor. Caros Salesianos e membros da Família Salesiana: amai o vosso Inspetor, ajudai-o a conduzir-vos a Deus.
Em nome do Reitor-Mor: obrigado, caro P. Ignácio, por ter aceitado este grande desafio de servir os seus irmãos. Ser um Inspetor “é um bom trabalho”. É a sua oportunidade de ser outro Dom Bosco nesta Inspetoria.
Nosso agradecimento ao P. Pessinatti por ter encarnado a presença de Dom Bosco nesta Inspetoria durante os últimos seis anos: que o Senhor recompense todo o seu trabalho e esforços.
A Palavra de Deus de hoje ajuda-nos a compreender o que o Senhor te pede, caro P. Ignácio: Jesus não estava sentado no seu escritório, mas recorria às cidades dos homens e mulheres daquele tempo, ouvia o clamor dos pobres e doentes, estendia sua mão, curava e depois se retirava para lugares desertos, onde se entregava à oração. É a missão do Bom Pastor.
Aqui está o seu primeiro ou mais importante trabalho: “estar onde estão as ovelhas”. Esteja presente. O seu primeiro trabalho é estar onde estão os Salesianos, os leigos e os jovens, especialmente os mais pobres. Estar com eles, caminhar com eles, visitar as comunidades, ouvir os Salesianos, perguntar-lhes como se sentem, acompanhá-los em dias de festa, mas também todos os dias. “Estar presente” significa ouvir, acompanhar, curar e amar.
Teu serviço é amar muito: Salesianos, jovens e os leigos da Inspetoria. Porque o amor vem de Deus. Porque Deus nos amou primeiro. Porque Jesus é o “único Pastor”, não se deve substituir ao único pastor, mas ser o “bom Pastor” para eles.
Amar as ovelhas como Dom Bosco amava os jovens “Por vós estudo, por vós trabalho, por vós estou pronto a dar o meu último suspiro”.
Sim, para ti, caro P. Ignácio, o primeiro trabalho é “estar presente”. Para todos nós, Jesus lembra-nos que precisamos ser as suas ovelhas. Deixarmo-nos acompanhar, receber o amor do Pastor e deixar-nos guiar.
Para além de estar presente com as ovelhas, o Inspetor deve ouvir e curar, quer dizer animar e governar. Curar e governar é querer o bem dos irmãos para que eles descubram que “eu, o Senhor, sou o seu Deus e eles são o meu povo, a casa de Israel”.
É compreender quando um salesiano está desmotivado e triste. Muitas vezes os ideais declinam porque a vida quotidiana é difícil. É ainda pior quando perdemos os nossos ideais, quando os sonhos se desvanecem e a “primeira chamada” morre. Animar e governar ao mesmo tempo.
Muitas vezes os irmãos, os leigos e os jovens não se apercebem da situação. Aconteceu a Jesus no casamento em Caná. Ele pensou que “a sua hora não tinha chegado”. A Virgem Maria lembrou-o, dizendo aos criados: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Governar é saber o que Deus quer dos Salesianos e dos leigos na Inspetoria de hoje. O Inspetor, centrado na oração e na Palavra de Deus, encoraja os Salesianos a lerem a Palavra com mais frequência, a estudá-la, a meditá-la e a partilhá-la com outros. Deus governará com amor para mostrar o caminho, porque a vontade de Deus vem sempre antes de todos os nossos projetos. Somos instrumentos na mão do Senhor. Até o Inspetor, depois de fazer o que tinha de fazer, deve reconhecer que “sou um servo inútil. Fiz apenas o que tinha de fazer”.
Assim, caro P. Ignácio, para além de estar presente, animando e governando, é preciso acompanhar as comunidades salesianas e as comunidades educativas pastorais para que possam mostrar o amor de Deus. Nós, salesianos, somos reconhecidos porque trabalhamos arduamente, em todo o mundo. Somos amados por isto. Mas não somos reconhecidos como “homens de Deus”. Essa é a nossa fragilidade. Os leigos e os jovens muitas vezes não compreendem “para quem” fazemos as coisas. Somos trabalhadores, mas não testemunhas do Amor de Deus.
No tempo de Jesus, o que as pessoas mais admiravam Nele não era a doutrina que Ele pregava ou as regras de vida que Ele dava, mas a Sua maneira de tratar as pessoas, de se relacionar com todos os que encontrava, especialmente aqueles que se sentiam desprezados pela sociedade, pecadores, crianças, mulheres, leprosos. Se somos verdadeiramente homens de Deus e Ele está nos nossos corações, as nossas relações devem ser cheias de misericórdia. É o nosso cartão de identidade.
O trabalho do Inspetor é assegurar que as comunidades salesianas vivam a comunhão, que os irmãos se amem e sejam felizes. Dizemos que as nossas comunidades são fraternais, mas frequentemente agimos de forma egoísta. Estamos muito preocupados com o “fazer”. “Corremos o risco de perder a nossa forma de pensar, inspirados pelo Evangelho, para assumirmos as categorias negativas da cultura atual. Escondemos, por exemplo, atrás do “respeito” e da “tolerância” a nossa indiferença e falta de atenção aos nossos irmãos… Aburguesamento e ativismo acabam por nos fazer acreditar que o tempo partilhado em comunidade é tempo “roubado” da “esfera privada” ou da missão (CG 27,9). Temos de cuidar de nós próprios, de curar feridas, de construir relações saudáveis. Para isso precisamos nos educar, nos exercitar em fraternidade, nos educar e educar para viver juntos gerando relações fraternas, cultivar a atitude de dizer palavras de bênção que expressem simpatia pelas pessoas e de procurar o verdadeiro bem.
É preciso ajudar as comunidades salesianas e as comunidades educativos pastorais a viverem felizes na misericórdia e no perdão.
Finalmente, o trabalho do Inspetor é assegurar que as comunidades salesianas se dediquem à evangelização. A nossa missão salesiana é integral. Como educadores, não só partilhamos e colaboramos com os jovens para lhes fornecer pão, competências profissionais e formação cultural, mas também os ajudamos a descobrir a pessoa de Cristo e assim construir uma sociedade mais digna do homem e da mulher de hoje.
Não podemos ser “Dom Bosco hoje” sem esta educação integral. O perigo hoje em dia é que muitas vezes somos considerados apenas “trabalhadores sociais”, em vez de educadores e pastores, capazes de dar testemunho do primado de Deus, de proclamar o Evangelho e de proporcionar acompanhamento espiritual (CG 27,38). Num mundo em que Deus não conta, Dom Bosco pede-nos hoje que encontremos formas criativas de afirmar a importância dos valores do Evangelho e do encontro pessoal com o Deus da vida, do amor, da ternura e da compaixão.
Isto exige, caro P. Ignácio, que ajude os salesianos, consagrados e leigos, a fomentarem a experiência da fé e o encontro com Cristo: os jovens exigem a concretude e a coerência do nosso estilo de vida.
O trabalho do Inspetor é tornar as comunidades salesianas fecundas em vocações. Isto não significa apenas realizar boas campanhas vocacionais ou distribuir cartazes vocacionais por todos os lados mesmo nas redes sociais ou outros meios de comunicação social, tão populares entre os jovens de hoje. Isso também, mas não só.
Significa tornar as comunidades salesianas atrativas, apaixonadas, fascinantes, para que os jovens que nos conhecem possam experimentar o sal e a luz do Evangelho.
A sua tarefa é que a luz das comunidades ilumine, que esteja sempre no alto, que não esqueça os sonhos de Dom Bosco e a paixão pelos pobres.
Que o sal da comunhão salesiana e da fraternidade não percam o seu sabor e que continuem a alimentar a vida de muitos jovens no Nordeste.
Caro P. Ignácio, eu sei que tudo isto não é fácil, e sei por experiência própria. Deixe que Deus guie a tua vida e a tua missão. É um bom trabalho, não fácil, mas temos uma Mãe que encheu de vida o Oratório de Dom Bosco, que ajudou a espalhar a nossa Congregação pelo mundo: a Auxiliadora. Fique sempre sob o seu manto materno.
Ninguém, caro P. Ignácio, vai lhe pedir milagres. Os milagres são coisas de Deus. Mas coloque a sua vida à disposição de Jesus, “os cinco pães e dois peixes do Evangelho”, para que Jesus possa então fazer os milagres necessários.
Que Nossa Senhora Auxiliadora esteja sempre convosco. Amém.
Imagem: Wilson Firmo